02 junho 2009

Simenon

Na última semana me deu vontade de ler um bom romance policial e aí me decidi pelo Simenon. Comecei com O Caso Saint-Fiacre, e acompanhei Maigret de volta à sua cidade natal. Nela o Comissário reencontra personagens antes inacessíveis, quando ele era garoto pobre, filho do administrador do castelo.

A condessa está morta, mas antes disso, ela e o castelo e a nobreza que um dia representou, entraram em franca decadência. Seu filho, o herdeiro de coisa nenhuma, vadio e por aqui de dívidas, é suspeito, bem como o secretário da condessa com quem ela mantinha relações inadequadas – causa de indignação e revolta dos mais pudicos habitantes do vilarejo.

O mundo que Maigret conheceu e do qual provavelmente ainda conservava alguma impressão desde quando deixou aqueles cafundós, desaba. Os últimos vestígios sobreviveram até sua vinda, quando deixou seus afazeres em Paris e fez aquela viagem que é também uma viagem sentimental, embora às avessas; desmistificadora.

É trazido ali motivado pelo trabalho de detetive. Precisa solucionar um crime que ainda não aconteceu. Um crime anunciado. Aliás, algo sem muito sentido, que não fica nem um pouco esclarecido já que o assassino não é um serial killer narcisista e tarado por ibope. Tal excentricidade será sua perdição. Não fosse ela teríamos o crime perfeito em que um assassino sequer suja as mãos, senão de tinta. A vítima cai fulminada por um ataque do coração depois de ler uma notícia prestidigitada, intencionalmente deixada ao seu alcance.

O assombro de Maigret diante de seu mundo de infância que desmoronou é a tônica maior do livro. O caso do assassinato fica em segundo plano – nem é solucionado por ele – Simenon não corrigiu as impropriedades nem ligou importância para um detalhe e outro inverossímil, e nele, assim como em Cervantes, tais “descuidos” não foram capazes de macular o romance que sai incólume, possibilitando-nos mais uma leitura da alma humana.

Um comentário:

Anônimo disse...

-Na sua autobiografia, Simenon afirma que transou com mais de 20 mil mulheres...
-Sabe-se que ele escreveu por volta de quatro centenas de livros...
- entrou pra academia belga...
Nivaldo, da academia você já é. Só faltam os outros dois tópicos. Vai tentando.

Mário

P.S.: deixa os comentários ativos, cara.