O consenso mais aceito é que nas últimas décadas tivemos de nos contentar com produções razoáveis. Nada de excepcional. Há quem diga que os escritores de hoje chegaram tarde demais. Vieram depois de Shakespeare, Cervantes, Dostoievski, Machado de Assis etc. Ou talvez fomos nós que nos tornamos mais exigentes ou confusos por efeito dos novos tempos – plurais desde as Vanguardas – e que têm nos oferecido um número considerável de obras que não se encaixam num mesmo gênero nem estilo de época.
E o que é ser genial?
Quando o escritor segue os paradigmas é julgado pela sua incapacidade criativa, se envereda pelo experimentalismo corre o risco de parecer tradicional, superficial ou ridículo. A partir de quais critérios podemos julgar se uma obra é experimental? Ou mais ainda. O que é ser experimental depois de Joyce, Beckett, Marcel Duchamp ou Haroldo de Campos?
Há dois bons, justos e criteriosos julgamentos de livros. O primeiro é de Oscar Wilde: Um livro não é moral ou imoral. É bem ou mal escrito, diz ele. O outro julgamento é de Ernesto Sabato: O bom livro não foi feito para entreter, mas para causar perplexidade. Situo o meu ideal de livro levando em consideração esses dois conceitos, principalmente o último.
Recentemente li dois livros de autores brasileiros. Em Galiléia do Ronaldo Correia de Brito e O Filho Eterno de Cristóvão Tezza, pude reconhecer que os autores foram felizes em tratar do humano. Não são livros para entreter, mas para causar perplexidade, como queria Sabato e não fazem parte desse monte de porcaria que figura na lista dos dez mais. Não encontramos personagens estereotipadas, marcadas por uma idéia estúpida e romântica de dualismo. Nos personagens reconhecemos nossa banda podre. Não são livros morais ou imorais. Tratam do mais absurdo de todos os animais, o homem e sua viagem para lugar nenhum, tentando desesperadamente dar sentido à sua vida. O homem comum, efêmero, bem distante do Ulisses de Homero.