16 maio 2013

Do tiro no próprio pé



Marina Silva defendeu o Presidente da Comissão de Direitos Humanos, o muito querido das redes sociais, deputado e pastor evangélico Marco Feliciano. O evento se deu no auditório da Universidade Católica de Pernambuco. A ex candidata a presidente do Brasil disse que Feliciano estaria sendo hostilizado mais por ser evengélico do que por suas declarações equivocadas.

O interessante é que muitos que acusam Feliciano são cristãos, cristãos de todas as denominações, cristãos católicos, cristãos espíritas, cristãos que ainda esperam Dom Sebastião e até cristãos devotos de matadores de dragões, mas todos, enfim, cristãos; creem no Cristo, na sua morte e ressurreição e por certo na Bíblia, o livro santo que contem a revelação do Senhor. O livro de lombada dourada, com ilustrações de Gustave Doré, enorme e muito digno que serve para enfeitar o móvel da sala e advertir os visitantes que ali reside uma família temente a Deus.

Tantos cristãos críticos não se deram conta ainda que o que pensa Feliciano e o conteúdo de suas declarações está intimamente ligado ao fato de ser cristão (evangélico). Sua condição de sectário pressupõe uma visão de mundo que não destoa da bíblia, como a visão de mundo do islâmico não destoa do Alcorão. Sobre a homofobia, talvez a polêmica maior que envolve o deputado, a Bíblia é sete vezes sete mais radical do que Feliciano, basta ler o episódio do Gênesis que trata da destruição de Sodoma e Gomorra ou Levítico 20:13; o sexo entre iguais nunca foi do agrado de Deus.

A crítica a Feliciano, à sua visão tacanha e anacrônica do mundo, é a crítica à visão de mundo da bíblia. Só os críticos não perceberam isso, pelo menos os críticos cristãos, e isso é muito engraçado, se não fosse trágico.

15 maio 2013

fazer o quê?


Mesmo escritores importantes e homens comprometidos com seu tempo são capazes de ficar absolutamente cegos pela ideologia – um facho de luz que lhes atira do cavalo no chão de fé e dogmatismo. E nem os ateus são imunes, também eles são capazes de transcendência.  É o caso de muitos escritores da América Latina, alguns entre eles clássicos, como Gabriel Garcia Marques, que nunca questionou o fato de alguém se perpetuar no poder, como Fidel. Isso é ditadura e ditadura não é boa, seja ela de esquerda ou direita. Uma vez, na fliporto, ouvi o Galeano falar de Hugo Chavez, e parecia que ele estava falando do mais inocente e meigo de todos os homens. Inocente? Tudo bem que ele se transformou em pomba, quando morreu, mas tenho a mesma impressão de Alberto Caeiro sobre as pombas, são estúpidas e feias. Mas não julgo um bom escritor só porque ele sofre de improbidade intelectual. Que ele seja partidário ou sectário de uma seita religiosa, daquelas bem anacrônicas que ainda supõe sem máculas o hímen de Maria, tudo bem, desde que  faça literatura e não panfleto. O caso mais extremo talvez seja Ferdinand Celine, o cara era colaborador nazista, mas escreveu Viagem ao fim da noite, fazer o quê?