Quando o homem comum vai ao cemitério fazer sua última visita ao túmulo judeu de seus pais – embora não saiba que seja a última, encontra o coveiro. Tal encontro me fez lembrar da cena I do Quinto Ato de Hamlet. Nela o perturbado príncipe se encontra com o coveiro e se espanta diante do horror de segurar nas mãos o crânio de Yorick, o bobo da corte de seu pai, que o fazia rir e o carregava nas costas. Que fizeram de teus sarcasmos, de tuas cabriolas e canções, pergunta o príncipe. O coveiro é bem humorado, está cantando quando aparecem Hamlet e Horácio e não reconhece o príncipe. Este lhe faz perguntas. Quanto tempo é coveiro e quanto tempo pode ficar um homem enterrado antes de apodrecer?
Um dia nublado, com pancadas de chuva à tarde.
Assim como Hamlet, o personagem de Roth não compactua com o coveiro da mesma naturalidade com que este encara a morte. Nele há indignação e revolta e um forte sentimento de inconformismo por saber-se impotente diante do inevitável.
Há mais de uma leitura possível no livro, porém aquela que mais me tocou é a história de um homem que sabe que vai morrer, senão hoje, mas um dia, talvez mais cedo do que seria da sua escolha e que não há nada a fazer, senão revoltar-se. Mais do que isso, é a história de um homem que não tem nome porque representa a todos nós, e que apesar de todos os erros e frustrações que acumulou pelo caminho, continua preso à vida de tal modo a considerar a morte um equívoco, o maior dos absurdos, aquilo que atenta contra sua natureza.
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