22 março 2009

Na livraria


Na livraria, aquele pingo de gente. Saio por ali gravitando em torno dos livros expostos e dou de cara com a nova tradução, aliás a primeira vertida diretamente do russo, por Boris Schnaiderman, da Morte de Ivan Ilich. Peguei o livro e o visor ótico me deu outra boa notícia, não é caro; apenas 24 reais.

A livraria mantém um café no primeiro andar, com o livro debaixo do braço subo os oito degraus e me sento numa mesinha, a mesma de todas as vezes que vou ali. O rapaz já me conhece, também sabe de minhas posses, e de longe me faz um gesto, a mão estendida e dois dedos medindo a insignificância de meu pedido; um expresso, sem grãos selecionados nem os bolinhos de goma.

Quando o café chega eu já tenho lido a primeira página. Uns juízes sabem da morte de um colega e cada um se põe a imaginar o quinhão que lhes cabe. É um livro sobre a vida e sua insignificância, é um tratado da mesquinharia humana. Enquanto tomo meu café me lembro de Milan Kundera, foi ele quem disse que aquilo que melhor nos representa, a nós seres humanos é a insignificância. Acho que isso devia mexer com a fé de Tolstoi.

Numa mesa ao meu lado uma senhora conversa com uma jovem, e a não ser a gente e o rapaz que serve as mesas, o café está quase deserto.

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