13 fevereiro 2014

O tempo envelhece depressa


O tempo. Muitos já se encarregaram desse tema: poetas, romancistas, filósofos. É possível citar alguns livros famosos, lembro-me de Lete de Harald Weinrich, alguém vai se lembrar de Borges e o rio de Heráclito. É sobre o tempo o livro de contos de Antônio Tabucchi. O tempo envelhece depressa é o título. Li numa assentada. Fininho, pouco mais de 150 páginas.
Antônio nasceu na Itália, dizia que costumava sonhar em português, e não há nada de estranho nisso, não para quem se apaixonou pela poesia de Fernando Pessoa, o poeta dos heterônimos que se converteria em personagem do próprio Tabucchi. Dizem que encontrou o poema Tabacaria num quiosque perto da Gare de Lyon, Paris, assinado por Álvaro de Campos. Desse dia em diante se interessou pelas coisas de Portugal, tanto que se casou com uma portuguesa: D. Maria José de Lancastre de Melo Sampaio, filha de baronesa e neta de conde.
Fico imaginando o Antônio perdido nas ruas e becos de Paris, uma grande cidade, não resta dúvida, uma cidade estrangeira; ele cruza as ruas e desaparece na multidão. Acho que melhor descrição não caberia para as personagens de O tempo envelhece depressa. Para quem os observa de longe: transeuntes. Um pouquinho mais perto e a gente nota a diferença: alguns estão em terra estrangeira, são homens cultos na sua maioria, poliglotas e leitores de Homero, mas estão velhos, alguns senis e além da paisagem: o efêmero.
Como em outros livros do autor, nesse há referências literárias, o “pobre rapaz de Praga que acordou fora de contexto” do conto Clof, clop, clofete, clopete é Gregor Samsa e como ele as personagens de O tempo envelhece depressa também estão atordoados, não com a metamorfose. Não há nenhuma além do corpo jovem que se fez velho. Também não é a cidade estrangeira. A descrição da paisagem é quase sempre dada a um narrador sensível que faz disso motivo de reflexão e apreciação da arte. O atordoamento porque se acordou fora de contexto é provocado pelo tempo que passou depressa e nos deixou incompletos, fragmentados.

O tempo de Antônio Tabucchi acabou no dia 25 de março de 2012. Ele nem fizera ainda 69 anos.

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