14 janeiro 2010

na praia

Em janeiro o negócio é sair de férias e de preferência se mandar para o litoral. Seria uma ótima opção não fosse um inconveniente. É que com você também se mandam os imbecis. Minha idéia de praia é o seguinte: uma cadeira confortável onde a gente pode se sentar e se deitar quando uma onda de preguiça tomar conta do corpo, principalmente depois de alguns goles a mais de cerveja. Pois bem, antes da preguiça e do exagero alcoólico, nosso corpo ainda se mantém sentado e nós seguramos na mão um bom livro. Não precisa ser nada difícil, Euclides da Cunha não é uma boa idéia nem o autor de Balmaceda tampouco; a preocupação com dicionários e lápis com a ponta que precisa ser refeita de vez em quando não combina muito com a tal cadeira e os pés – descalços – metidos na areia. Eu recomendo um livro que dispense a consulta ao dicionário ou anotações no rodapé, um livro que não subestime nossa inteligência, mas que não superestime tampouco. Um livro que o marulho das ondas não atrapalhe sua leitura, no máximo possa servir de música ao fundo que logo esquecemos tão vidrados ficamos. Eu penso num clássico da literatura noir como O Falcão Maltês de Hammett, por exemplo. É, o Falcão é uma ótima idéia. Um desses livros que provoca prazer e que, talvez por isso e por dispensar dicionários, o Fernando Sabino tão injustamente taxou de descartáveis. Você, sua cadeira dobrável e o Falcão. No mais a areia e o mar rugindo.

Até que a gente acorda do sonho e se depara com o pesadelo. Há uma infinidade de barracas com um monte de mesinhas distribuídas segundo uma convenção que respeita os direitos territoriais de cada barraqueiro. Em cima da mesa mais uma cerveja enquanto milhares de vasilhames vazios se amontoam por toda parte. Em torno da mesa os tais imbecis. Mais tarde eles vão se vangloriar da enorme quantidade de álcool que conseguiram ingerir. Agora, enquanto pedem mais uma, meditam sobre coisa nenhuma enquanto fitam descarados mais uma bunda. Mas o pior não é isso. Não é a cerveja nem fitar e se deliciar diante de uma bunda. O pior é a música que esses senhores e senhoras não param de ouvir do momento que se sentam até o momento quando vão embora. Eu não preciso dá nome aos porcos – são porcos os cantores e cantoras das tais bandas – de forro, axé e mais o diabo com todos os seus dotes menos o da música. Não é possível conversar, o volume muito alto exige que você grite. No início todo mundo ainda consegue gritar uma vez e outra, mas não é possível fazer isso por horas, mesmo a melhor conversa soçobra, vencida pelo barulho e o cansaço das gargantas que agora, impedidas de falar, prestam-se somente ao consumo de álcool – e deve ser esta a razão por que o barraqueiro investe tanto no som da barraca.

Quem sonha poder nas férias ler o seu Hammett sentado na sua cadeira dobrável tem que fazer como eu: evite as aglomerações, corra de São José e Tamandaré, procure as praias desertas, mesmo que o consumo de gasolina ultrapasse o orçamento. Amanhã eu vou pra Tambaba. É verdade que todos tiram a roupa por lá, e isso pode distrair meu Falcão, mas a moça do centro turístico me garantiu uma coisa, disse que o som – o senhor pode confiar – é proibido nas barracas.

Nenhum comentário: