24 agosto 2009

fernando monteiro e as editoras

Acabei de ler o artigo do Fernando Monteiro no Rascunho. Acho que muita gente deve achar que ele é um despeitado já que reclama tanto das editoras que não publicam seus poemas para leitores inteligentes. Mas, apesar de toda antipatia, acho que ele tem alguma razão.

Vamos esquecer o despeito e fazer vista grossa para essa coisa de ficar discutindo o óbvio como se o fato de não existir bons leitores fosse uma novidade. É claro que não há. Ele cita Osman Lins, Saer e Roberto Bolanõs. Já faz muito tempo que escritores como os citados são lidos apenas por escritores.

É claro que a editora tem que se preocupar com dinheiro. Sem dinheiro não há editoras. Por mais que muita gente possa achar que não, mas é de mercado o que estamos falando, e editoras são empresas que visam o lucro, caso contrário, fecham as portas.

Talvez o Fernando seja mais exigente do que eu e por certo é mais erudito etc. Mas na minha ignorância eu estava até otimista. Nos últimos três, quatro anos venho adquirindo bons livros recém editados como os livros da coleção Prosa do Mundo da Cosac Naify. Autores como Beckett, Babel, Elias Canetti e Pavese – inclusive sua poesia. Henry James e Melville estão tendo um tratamento todo especial e foi a Cosac que publicou pela primeira vez no Brasil traduções de dois contistas incríveis; o Julio Ramón Ribeyro e o Felisberto Hernandez, além de Bioy Casares. Também o Faulkner recebeu tratamento especial, suas Palmeiras Selvagens, O Som e a Fúria e Luz em Agosto estão bem editados, com traduções recomendadas. Fui apresentado a Alan Paus e Vila-Matas pela Cosac. Eu poderia continuar falando em Flannery O´Connor e Virgínia Woolf, além de Ferenc Molnar e os seus Meninos da Rua Paulo que li numa edição bem velha, editada nos anos 60, se não me engano, pela Saraiva. Foi uma felicidade encontra-lo reeditado pela Cosac Naify. E isso sem contar os brasileiros como Ronaldo Correia de Brito, Rodrigo Lacerda, Marçal Aquino, Davi Arrigucci Jr e outros escritores, muitos deles inéditos.

Faz uns dez anos que a Globo publicou a obra completa de Borges, e recentemente a CIA das letras vem publicando outras traduções do Borges. A editora 34 também está valorizando boas traduções, principalmente dos escritores russos do século XIX. A Ateliê Editorial editou há pouco tempo Ariosto e Saint John Perse além do Finnegans Wake de Joyce, e recentemente Coleridge. E até Jerusalém Libertada, longo poema de Torquato Tasso que certo Stuart Kelly disse que se perdeu para sempre, foi recentemente editado no Brasil por uma editora de quadrinhos, a Topbooks. Não posso esquecer a Alfaguara e suas edições que valorizam o prazer do leitor. Ela nos tem dado notícias de novos autores e também dos consagrados criadores do século XX.

Alguém pode dizer que são clássicos, mas são clássicos revisitados, com novas traduções e propostas editoriais para atender o mais exigente leitor. Talvez não com a exigência toda do Fernando, mas pelo amor de Deus, não é o fim do mundo, e se a gente concorda com Fernando Monteiro quando diz que o perfil do consumidor de literatura degringolou nos últimos vinte anos, até que as editoras estão apostando alto.

Um comentário:

Helder Herik disse...

não esqueça da editora u-carbureto, que estará publicando o jovem poeta Helder Herik. Sabe lá deus, se a Record não o queira editar, depois que ele for finalista do Jabuti, ano que vem.


abraçãoO