17 agosto 2009

Arete

Cristhiano Aguiar é jovem e também um promissor ficcionista de Recife – embora paraibano – nesse momento ele está numa correria fazendo a curadoria do festival de literatura do Recife, A Letra e a Voz, em sua sétima edição. Também está com um livro novo chamado: Enquanto Caminhei Com. Tive oportunidade de ler um dos contos.

Arete tem no tema uma boa sacada. A perturbação de um escritor diante da estranheza de um assassino de crianças que canibaliza suas vítimas ser seu leitor, e pior que isso, um leitor especial, capaz de decorar passagens inteiras de seus livros. O título, Arete, que em grego significa bondade, excelência ou virtude, chama a atenção do leitor para a tal perturbação da personagem e nos conduz no fio que Piglia chama de a história secreta que no caso do conto também é o desenvolvimento de uma discussão sobre a literatura e sua função.

É comum nas entrevistas ao escritor alguém perguntar se ele concorda com a idéia de que a literatura pode contribuir para um mundo melhor ou se a literatura pode contribuir para melhorar o homem no que ele tem de humano. Elio, o escritor-personagem de Arete vai visitar o leitor-assassino na prisão e se decepciona com o pouco de gente que encontra diante de si. Moreno, bigodudo e careca, parece com ele próprio, podiam ser primos, são feitos da mesma matéria. Chama-o de Molloch, com dois elis. O demônio da tradição cristã e cabalística a quem entregavam as crianças queimando-as em sacrifício, um mito também aproximado do Minotauro que também devorava jovens. Molloch é um demônio e está perdido e o fato de ser seu melhor leitor não mudou em nada sua história de condenado. A literatura que pode muitas coisas, parece que não pôde nada com relação a Molloch.

O conto tem uma construção não linear que força a gente a ler de novo quando terminamos o último parágrafo. A segunda leitura é diferente da primeira, as coisas se encaixam melhor. Elio diz que não tem uma resposta para o que Molloch fez e no último parágrafo ele parece que retoma esse mesmo discurso e diz que o conto continua conosco. A literatura não fornece respostas, só inquietações e nós – leitores – participamos do processo criativo.

Um comentário:

Helder Herik disse...

A literatura pode não dá uma resposta absoluta, que isto cabe a filosofia (e as religiões), mas a literatura é a minha resposta.

Quero ler o livro que Mário te emprestou.
Tem como você o levar ao café amanhã?

abração.