07 julho 2009

Do silêncio de Jesus

Turguêniev, no leito de morte, faz uma súplica a Tolstoi, pede que ele volte para a literatura. Nesse período Tolstoi havia renegado sua arte e vinha se dedicando à vida espiritual. O moribundo é atendido e o resultado disso é A Morte de Ivan Ilitch. Flaubert também já tinha feito um comentário sobre o romancista russo. Dizia que o artista perdia muito quando dava lugar ao doutrinador.

Um livro não é moral ou imoral, dizia Oscar Wilde, um livro é bem ou mal escrito. O aforismo de Wilde apresenta uma ótima saída. Um livro não é importante pela sua vindicação ideológica, filosófica ou religiosa.

Não há nada mais passível da ação do tempo do que a postulação ideológica, filosófica ou religiosa. Numa determinada época que hoje nos parece escondida atrás dos séculos, as melhores cabeças preconizavam o comunismo como resposta aos males da sociedade. Depois de toda burocracia, ditaduras e transgressões aos direitos humanos, não conseguimos evitar sentir que fomos enganados. Um novo sistema filosófico é sempre eficaz em apontar as falhas daquele que ficou para trás, e a religião rivaliza com os piores assassinos o número de esqueletos escondidos no armário.

A literatura que se ocupa com tais especulações não raro se perde enredada no próprio torvelinho. As questões fundamentais continuam fundamentais e sem respostas. O problema da existência continua sem solução. Dar de ombro ainda é o melhor a fazer.

Além de se indignar com a descriminação que sofre o judeu e caminhar com ele pelos becos e avenidas que perfazem sua rotina diária. Além de ver televisão com ele e acompanhar as eleições que todos sabem foram fraudadas e experimentar da comida fast food e sentir dor de barriga, não encontramos respostas na literatura, apenas sofisticamos nossas perguntas.

Nenhum comentário: