06 abril 2009

Da inércia

Não sou um entusiasta de minha própria desordem. Sou um crítico, lamento este meu caráter. Mas não é da desordem que provoca o caos, o que eu me refiro, não a desordem que pressupõe ação, movimento, revolução. Mas uma outra desordem, aquela que nasce da inércia, da preguiça. A desordem das coisas fora do lugar porque ninguém as colocou de volta na escrivaninha, na estante, no tinteiro. A desordem provocada pelo absoluto não fazer.

Há um livro de Luís Jardim que tem um péssimo nome “As confissões do meu tio Gonzaga”, mas que foi escrito na melhor tradição de Machado de Assis e do romance psicológico. No livro há uma personagem, o Gonzaga, que não consegue ser feliz porque um sentimento de profunda impotência o impede de dar curso a seus projetos mais simples. Convertido num ser sem vontade própria, vive a ditadura da inércia. Quando li o livro surpreendeu-me como Luís Jardim soube captar o espírito de sua cidade natal – Garanhuns – , uma cidade famosa pelas coisas que já teve e que apresenta em sua imobilidade crônica uma perfeita vocação para província.

A inércia também tem outro nome, chama-se Bartleby. No momento sou Bartleby com sotaque de Gonzaga.

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