13 abril 2009

Fanatismo

Há um livro delicioso que sempre leio e releio. O escritor e seus fantasmas de Ernesto Sabato é uma coletânea de pequenos textos, fragmentos de cartas, ensaios e resenhas literárias. Não há uma seqüência linear, embora quase tudo gire em torno do mesmo assunto: literatura. No livro, como sugere o título, nos deparamos com os fantasmas do escritor; suas inquietações e obsessões. Costumo ler em voz alta um trecho do livro, acho que foi o que mais me chamou a atenção em toda aquela babel de pequenos textos. Ando para lá e para cá recitando o trecho, sinto que é uma verdade que devo assimilar, por isso assumo uma atitude solene, alguma coisa parecida com os muçulmanos lendo e relendo o Alcorão a fim de que ele comece a fazer parte de sua natureza. No trecho o escritor diz que o fanatismo é a condição mais preciosa do criador, e enfatiza: é preciso ter uma obsessão fanática, nada deve antepor-se a sua criação, deve sacrificar qualquer coisa a ela. Sem esse fanatismo nada de importante pode ser feito.

Hoje, lendo as Cartas de Flaubert, lembrou-me o livro de Sabato. Flaubert também fala, nas cartas, de seus fantasmas, e poucas páginas depois de leitura, percebemos que aquilo que mais preocupou e consumiu sua vida foi a literatura. Dele, podemos dizer, sacrificou tudo em nome da criação. Acho que Fernando Pessoa estava pensando nele quando escreveu seu axioma famoso. Num trecho de uma das cartas, há uma frase que sublinhei: Não se faz nada de grande sem fanatismo.


Provavelmente Ernesto Sabato leu as Cartas de Flaubert, mas talvez nem pensasse nelas no momento em que escreveu sua interpretação da condição mais preciosa do criador.

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