09 março 2010

Moisés, exemplo de intolerância religiosa

Os cristãos destruíram deuses em nome de seu deus soberano. O deus cristão é o único deus, mas os sacerdotes de batina enxergavam nos ídolos pagãos da Grécia ao México uma ameaça, coisa no mínimo curiosa, já que os pobres ídolos nunca passaram disso, de formas inanimadas de barro não transcendental. Quando leio o Velho Testamento noto que os padres tiveram em Moisés um bom exemplo de intolerância religiosa. O episódio é conhecido por todos: Moisés é advertido por Deus que a turma lá em baixo está aprontando. O velho patriarca levando as tábuas dos dez mandamentos – aquilo devia pesar pra burro – se apressa em descer o Monte Sinai e de fato encontra seu povo dançando na maior alegria diante do bezerro de ouro que foi moldado por Aarão – irmão e profeta de Moisés escolhido pelo próprio Iahweh – que usa sua arte para atender as aspirações do povo. Moisés, entretanto, não gosta nem um pouco do que vê; presa de uma fúria que só encontrará precedentes em Átila e no Incrível Hulk, faz pedacinhos do bezerro de ouro.

Nessa passagem bíblica há dois pontos interessantes e dignos de nota. O primeiro reforça minhas desconfianças nos fatos narrados. Não consigo entender como o mesmo povo que presenciou todos os prodígios realizados por Moisés em nome do Deus; vocês devem se lembrar de alguns como a vara transformada em serpente – não confundir com nenhum duplo sentido – , a água transformada em sangue, rios poluídos e peixes mortos e o desespero dos ambientalistas, as pragas de rãs, dos mosquitos e moscas e a peste que matou os animais dos egípcios, inocentes ou não. As úlceras, a chuva de pedras – não confundir com meteoros –, mais pragas de gafanhotos e finalmente o mais prodigioso feito contra os egípcios: a morte de todos os primogênitos. Segundo conta o livro sagrado, ninguém foi poupado, nem o mais pobre egípcio, nem mesmo aquele que morava fora da cidade e era contrário à política do faraó. Este, como todos os outros, sofreu a perda irreparável do filho. Aliás, nem o gado foi poupado, toda vaca e todo boi perdeu seu primeiro filhote – muito tempo depois um romano vai tentar um feito parecido, mas não vai chegar nem perto –, e todos esses prodígios, além do Mar Vermelho que se tornou terra seca para passagem do povo, tudo isso e outros “milagres” não vão surtir efeito sobre a fé dos israelitas em Iahweh. Cansados e impacientes com Moisés – que era péssimo escrivão – e por isso se demorava escrevendo nas tábuas os dez mandamentos, vão se dirigir a Aarão e solicitar

Vamos, faze-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, a esse homem que nos fez subir da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu. (Êxodos 32,1)

O segundo ponto é, na minha opinião, a história das religiões que está bem representada na fúria de Moisés quando desce do Monte Sinai e destrói o ídolo de ouro. Acho que as religiões, principalmente as de tradição judaico-cristã e islâmica, não têm feito outra coisa senão dividir os homens. Há uma ética, por certo, e dela a religião se aproveita e se sente justificada. De fato o Judaísmo, Cristianismo ou Islamismo não manda ninguém ser mau, e entre as oposições antitéticas, é preferível o bem ao mal, a virtude ao vício, a bondade e não a crueldade. Mas há muita hipocrisia e o convívio é apenas tolerado. É fácil notar isso. Temos desde exemplos os mais radicais como aqueles que nos oferecem judeus e palestinos que não fazem uma distinção muito clara entre as coisas de interesse do Estado e da Religião, e exemplos menos radicais – dependendo do lugar – como nos dão católicos e protestantes que até convivem pacificamente, mas no íntimo estão certos do quanto estão errados os outros em sua interpretação do Cristo.

Um comentário:

Ars von Otheles disse...

Moisés e várias coisas do Antigo Testamento são pura ficção. Se Deus existe, não poderia ter escolhido um povo tão ruim. Sendo Deus, deveria saber escolher melhor, ser mais criterioso. Se Deus existe, não poderia escolher um povo, afinal, todos somos filhos de Deus, por que então privilegiar um entre os outros? E que escolha errada! Os caras estão fazendo esquecer o holocausto! Não tem limites, partem p/ cima, metem a mão e eventualmente, balas. Querem o conflito e devem achar um saco os sacrifícios rituais, prefeririam uma guerra aberta p/ terem a desculpa de eliminação em massa.

Quando será que isso vai parar? Gostei da idéia de Lula para a ONU.