04 novembro 2009

2012

Há numa cena do filme Amadeus um episódio interessante. No final da apresentação de uma das peças de Mozart, não me lembro qual, todos esperam batidas fortes dos instrumentos anunciando o fim, mas diferente disso, as notas lentamente se calam. Sem gran finale ou apoteose. Mozart espera o reconhecimento de sua originalidade, mas ao invés disso, é questionado por aquele final sem graça e sem sentido.

O que isso nos diz? Que as pessoas são assim, elas buscam sentido e ordem em tudo. Aquilo que tem começo precisa ter um fim. É essa, talvez, a razão por que damos tanto crédito aos vaticínios de fim de mundo. O fim do mundo anunciado centenas ou milhares de anos atrás estabelece um nexo de ordem no caos. Outra razão, que tem tudo a ver com a primeira, é uma pretensão que alimentamos em torno do que somos e do que representamos. Creditamos a nós mesmos uma importância de protagonistas do universo. Assim como os judeus, nos sentimos o povo escolhido. Montesquieu traduziu nossa natureza numa passagem do seu Cartas Persas, no livro ele diz que mesmo que a imortalidade da alma fosse um erro, sentiria não crer nela porque o satisfaz a idéia de ser tão imortal quanto Deus. Ele chamava aos ateus de os verdadeiros humildes.

Não creio que o mundo vá acabar em 2012, mesmo sendo isto um vaticínio da ciência e religião juntas. Dizem que um dos calendários Maia acaba na data correspondente ao nosso 21 de dezembro de 2012. tampouco por isso. Mas não sou radical, acho que um dia algum cataclismo vai extinguir da face da terra a aventura humana, mas quando isso acontecer, não vai ser anunciado, vai ser num dia como qualquer outro, um domingo à tarde de sol e boas recomendações meteorológicas. Vai nos pegar a todos desprevenidos e vamos todos, com nossas caras espantadas, perecer como sempre existimos, sem o menor sentido.

3 comentários:

André Luiz de Castro disse...

que agouro é esse Nivaldo, reze um pai-nosso e três ave- maria; tenha fé meu filho.

Joaquim Rafael disse...

Tenho melhor teoria para esse negócio do calendário Maia só alcançar até 2012. Bateu no cara que tava fazendo a maior prequiça, disse: Eu não chego até lá mesmo, para que fazer tão longo? Chega!Largou o escopo, cuspiu e foi dormir. Qual o pecado em ser simples ou simplôrio?

Jael Soares disse...

O texto ficou simples e "foda" - como diria você mesmo, rsrs. Nem vai lembrar, mas fiz pré-vestibular em 2007 no CND e você ensinou Literatura à minha turma. Legal saber que ainda não mudou (ao menos tanto) em questão de pensamentos.

Mas, pegando gancho, essa história de ter começo e fim também vem das raízes católicas impostas ao mundo... O Budismo, diferentemente, "manda" viver o agora e esquecer o amanhã ou fim - segundo me disseram, pelo menos, rs. E também por sermos finitos, podemos achar que tudo o é também.

Ser humano é lasca.