Causou polêmica a censura imposta pelo prefeito do Rio ao
beijo gay exibido na hq dos Vingadores. Todo mundo saiu em defesa da hq, em
defesa da democracia, do estado laico e do direito que têm os gays de demonstrar,
também eles, amor e afeto seja na hq, seja na tv ou no cinema. Todo mundo
parece concordar que o que esse prefeito fez foi uma ofensa, um ato criminoso,
manifestação irrestrita da mais abjeta homofobia. E é isso mesmo, mas o que
ninguém parece perceber é que não há evangélico sem a sua religião, que o que
diz o evangélico fundamentalista não é nada que não esteja amparado no Livro.
Fala-se muito no indivíduo movido por sua fé, mas pouco dessa fé. Parece que há
um consenso que existe evangélico homofóbico, mas não existe religião
homofóbica, que há pastores homofóbicos, mas não há Livros sagrados homofóbicos.
A Bìblia só prega o amor.
A maioria das igrejas evangélicas acredita na cura gay. E se
há uma cura prevista é porque há uma doença, um mal que precisa ser curado. Todo
mundo só se lembra de Jesus entre as putas, mendigos, ladrões e toda horda de
párias para os quais ele veio porque foi para os doentes que ele veio. Perdoa
teu inimigo, disse ele, não uma vez, mas as vezes que forem necessárias
multiplicadas pelo infinito. Foi Jesus quem mandou atirar a pedra aquele que
nunca pecou na hora do julgamento da mulher adúltera. Jesus, portanto, é muito
diferente do Crivella e de uma parcela significativa de evangélicos. Jesus é
muito diferente do eleitor de Bolsonaro, não consigo ver Jesus apologista da
Ditadura Militar nem apoiador entusiasta de criminosos torturadores, Jesus
certamente perdoaria uma mulher que fez aborto e jamais concordaria com a pena
de morte. Jesus jamais diria bandido bom é bandido morto. Esse, felizmente, é o
Jesus de quem gostamos, é o Jesus normalmente ignorado por esses religiosos.
Mas mesmo tão bom, Jesus diria assim a um homossexual: Vá e não peques. Diria o
mesmo que disse à mulher adultera. Vá e não peques, vá e não se deite novamente
com o outro do mesmo sexo, e Jesus diria isso porque Jesus com toda sua bondade
e apesar de toda bondade também era religioso, e os religiosos, pelo menos do
monoteísmo, não aceitam que homens se deitem com outros homens, tal prática, para
Deus, o mesmo Deus Cristão, Judaico ou Islâmico, é abominação. Está lá no
Livro, não foi o Crivella quem inventou. Então não é só o Crivella que atenta
contra a Democracia, o Estado laico e o direito que têm os gays de se beijarem
numa hq, não é só o Crivela o monstro preconceituoso, a coisa é mais séria.
O
Brasil caminha para o fundamentalismo, se as coisas continuarem como estão,
logo seremos uma sociedade teocrática, a bancada evangélica só faz crescer, o
presidente da república diz que é preciso indicar um ministro do supremo
terrivelmente evangélico, é sabido que a Universal do Reino de Deus tem um
projeto de poder, Dória é cotado para as eleições de 2022. É preciso, portanto,
de uma discussão séria. É preciso menos condescendência, é preciso parar de
fingir que são só casos isolados de indivíduos preconceituosos. E não é só os
gays que estão ameaçados, aumentou muito os ataques aos terreiros do candomblé
e centros espíritas e os ateus não perdem por esperar.