10 outubro 2009

nobel

Herta Müller, 56 anos, é o mais novo prêmio Nobel de literatura. A mulher veio dos cafundós do Juda e a melhor coisa que li a respeito de sua produção é que é uma escrita simples. Não sei até que ponto isso pode constituir um elogio. Isso quer dizer que uma escrita complexa não presta? É por isso que Borges nunca ganhou, e olha que ele esperou que só pelo prêmio, morreu com quase noventa anos e eu acho que se não fosse essa espera prolongada, se não fosse a esperança que mantinha incólume, afinal diziam que ele era a maior expressão literária do século XX. Se não fosse esse monte de equívocos, menos o de que era um bom escritor, acho que ele teria morrido antes, em paz consigo mesmo, sem mais desgaste, um bom ateu e pessimista digno.

Mas o critério do prêmio Nobel sempre me pareceu uma coisa cretina. Mas cretina no mais profundo sentido do termo. Tive certeza disso quando eles anunciaram o prêmio a Dario Fo, em 1997. Esse imbecil e completo desconhecido e laureado pelo Nobel que logo logo vai desaparecer quase tão rápido quanto aquele escritor que Drummond chama de gauche e que publicou seu livro de contos por uma gráfica, sem selo nem código de barras. Esse Dario Fo de quem a única coisa boa que sabemos é que é viado, escreve umas peças de teatro e o mérito delas, segundo a justificativa do prêmio, é que defendem a dignidade dos oprimidos do flagelo dos déspotas. Primeiro que oprimido nenhum tem dignidade e mesmo que tivesse isso é lá justificativa para se avaliar as qualidades de um texto? Quer dizer que basta isso, ter boas intenções? Mas não é de boas intenções que o inferno está cheio?

A verdade é que o prêmio não está interessado no valor do escritor. Entre a grande maioria dos laureados, com exceção de um Thomas Mann, de um Faulkner e outros, o critério sempre está subordinado a questões muito mais de ordem política do que literária. Mesmo o Thomas Mann que eu citei, teve a legitimação do prêmio não pelo valor literário da obra, mas por sua postura de escritor contrária ao Nazismo. E se muitos ganharam o prêmio por suas escolhas políticas porque apoiavam o Comunismo, por exemplo, como uma força de reação ao poder do grande capital e da injustiça social, hoje que a verdade veio à tona e o Regime de Lênin e Stalin se confunde com uma ditadura anacrônica da América do Sul, Herta Müller é laureada e tem o reconhecimento do prêmio pela sua escrita simples e sua postura ideológica contrária ao Comunismo.